terça-feira, fevereiro 27, 2007

DESAFORTUNADO

Eu conheci a casa de um desafortunado
Nela vivi quase toda minha vida,
Apanhei gravetos para os invernados,
Puxei gavetas e guardei retratos,
Um arquivo morto de mim retirado.
Eu andei por dentro da casa cumeada
Tropecei pelos atalhos, cadafalsos,
Troquei uma vida, que me dera, inventada
Por uma que eu vi de perto, andando enfalço
Fui o primeiro desordeiro do motim,
Não tive nunca uma gota de raiva, e foi assim,
Andando dentro e fora dos pântanos sem fim,
Que o que sou graças à sorte fora de mim.
A imaculada virgem pia, mãe Conceição,
O meu amparo, pra quem eu viro os olhos,
A minha amada o tempo todo cortando a rota,
Dos desamados, não me buscou, largou-me à mão.
Eu fui até o cultivo dos desgarrados,
E vi a festa da colheita das formigas,
E disso eu disse, com o coração e alma aflitas,
Eu não descanso, mesmo quando estou sentado.
E da lavoura que cupimzal tragava,
Umas espigas de milho bem debulhadas,
Pus o sabugo como mastro da bravata,
E lutei só, com Conceição, nela amparado.
Olha-me Deus, no que escrevi,
Eu relatei a minha vida e Vos traí,
Era um segredo até o dia por vir,
Até cansar, e cansado, aqui cair.

4 comentários:

joaninha disse...

a traição das pessoas que gostam de nós e de quem gostamos são coisas imperdoáveis... o passado e as recordações de cada um são lugares priveligiados que devemos sempre respeitar...

*beijinho*

Sandokan disse...

Por acaso sabes qual é a única obrigação que temos nesta vida?
R - É a de não sermos imbecis.
O imbecil coxeia, não dos pés, mas do espírito.

joaninha disse...

lol... é bem verdade!!! Gostei da observação!!!

Naeno disse...

A poesia é vária. E vários são os pensametos, toma a direção e o formato que bem querem. Às vezes escrevemos uma poesia que fale de amor, tomados de emoção, noutras fa-se com uma mão.

Um beijo,
Muito obrigado

Naeo