segunda-feira, maio 30, 2011




AONDE MOROU O BUÇACO

Há uma rua onde mora
O que de melhor houve de nós
O que foi mais inocente
Em nossa real infância
Talvez nem mais haja agora
Aquela rua sem nós
E lá nem mora mais gente
Nem mais exala fragrância.

Que dos jardins demolidos
Dos quarteirões apartados
De casas já destruídas
De tudo que não há mais
Vem o que foi esquecido
Igual aceno apagado
Como amantes não tidas
Numa saudade voraz.

E eu nada sou sem lembrar
Da rua e dos moradores
Sombras de muros ao luar
Olhos, gestos, beijos, flores.


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naeno, para Sandocan, Poeta Cavador, Freyja, Peste, Nokitas,



CONFIÇÕES DO BUCAÇO

Você se abrigou em minha existência
Como um barco amarrado
Num cais petrificado
De um rio sem seqüencia.

Você fincou seus braços
No meu profundo sapé
E aprofundou meus telhados
Nas minhas fantasias deslembradas.

Você ergueu sua casa
Nos meus limites em conflito
E o mundo ficou mais bonito
E foi além da parada.

Me deixando sem nascente
Sem o borbulho, o aguado
Sem o horizonte plainado
Nas vistas do sol poente.

Você se fez tão amiga
Nesta saudade deixada
Quando sentida cantou
A canção já esquecida.

E eu tenho já de tirar
Você da minha invenção
E criar outra esperança
Vendo você me morar.

Ausenta o alto da vida
E expõe a mim a ferida
Que o tempo passou esquecido
O meu olhar de criança
Se inquieta e nunca cansa
E do que vi, a esperança
Da vida voltar além.

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naemo*com reservas

domingo, maio 29, 2011

NÃO VIU O AMOR


Quem não olha a flor

Como a formiga, calmamente

O seu sêmen reprodutor

Como o sol, louco pra ver a lua

Se posta madrugador.

Como quem vem pelas encostas

De um jeito surpreendedor

Louco pra ver se a dor já se arredou

Querendo ver o sinal de quem já beijou.

Quem não faz um ninho

E fica ali juntinho

Silvando à fêmea

Ao macho protetor

E não se põe a agradar

Pelas manhãs todas as rosas

Como faz um beija-flor.

E não se dá, em lençosde papel

Lágrimas de dor

Não penetra o coração

Pelo seu veio irrigador.


Quem por toda a vida passou

Em mergulhos em seu próprio calor

E não meteu os pés pelas mãos

E andou distando e não se atropelou.

Não disse nada

E nada ouviu do amor.

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naeno*comreservas