sábado, março 10, 2007

CIVILIZAÇÃO EM PROFUSÃO

__Para pisarmos nos campos mansos e iguais da civilização ainda havemos de caminhar, se buscarmos, alguns séculos. Por enquanto somos dependentes civis e orgânicos do mais longínquo dos nossos ancestrais. Ou de outro, porque ainda não julgo tão convincente a teoria de Darwin. Ainda nos mordemos uns aos outros com dentes vermelhos, como se acabássemos de tomar um suco encorpado de uva. Nossas ações de buscar e promover desencontros, desafetos ainda é marcante em nossos dias. Típicos sinais da brutalidade que reside dentro de cada um de nós.

E é tão verdadeiro que nos chamamos partes ou membros de uma civilização. O que significa dizer ainda estamos na ação de nos civilizarmos. Não somos civilizados e ainda mostramos sintomas disso. Civilidade - não civilização, que é o processo de elaboração, amoldelamento ao convívio harmônico entre as pessoas, com o coração bombeando o mesmo sangue e o mesmo olhar claro - não permite, não por regras ou conceitos, por instinto de quem já passou milênios de anos nesse processo de aperfeiçoamento, ver erros, blasfêmias e pedidos de desculpas, ninguém sabe se verdadeiros. Que enquanto houver uns poucos seres se desgostando, desfazendo-se uns dos outros, ainda estamos distanciados da civilidade.
No entanto o homem não tem demonstrado essa preocupação, ou intentos que tendam a isso, ao bom termo, ao reconhecimento de cada um como cada um é. Pelo contrário, insiste em adiar esse tempo, talvez com o medo de que haverá uma grassa de monotonia, e passem a não ver mais graça no mundo. Igualar-se talvez seja um risco. Se for esse o pensamento, pensam aquém dos nossos primatas, porque a paz, o que mais caracteriza a civilidade, é um bem para todos. Todos nos seus limites, morando onde escolheram morar.
E se o lugar onde estão estabelecidos não lhes é tão favorável, o homem civilizado há de ir ao encontro desse desabastado e o abastecer do que lhes falta, se for pão leva pão, se for escassez financeira que lhes leve ajuda financeira. Porque sempre haverá alguém com mais do que o outro. Essa igualdade de estatuto financeiro não é prescrita no processo de se tornar civilizada.
Apenas a boa vontade de reconhecimento no próximo como um ser igual, com todos os direitos. O que falou Cristo, o que falou Buda, e o que falam ainda hoje alguns santos no seio da terra, pacificadores. Aliás, em adquirir esse estágio de civilidade o homem não mais necessitará das embaixadas, tão inoperantes hoje, precisará da segurança de que está seguro onde esteja, que não vai ser importunado, se no seu subsolo tem petróleo, tem ouro, tem diamantes, tem fósseis raros, se em seu meio existem homens inteligentes, intransigentes com relação à sua religião. O que também se fará desnecessário porque a civilidade depende do livre arbítrio, um item normatizado pela necessidade de um bom convívio.
Porque ainda hoje os homens se agridem tão facilmente, às vezes até por uma palavra que não consta em seu dicionário, ou, em contendo, ele ainda não assimilou seu sentido, suas vertentes.
Civilidade, portanto, não é a condição de inércia, de trilhar o mundo como Moisés, de meia e meia hora olhando para o céu pra ver se caia o manjar prometido por Deus. Cividaliade implica na luta individual e comum, e isto não vemos por essas redondezas. Apraz o homem falar ainda o processo de civilização – como falar a nossa civilização – e não falar este ou aquele povo tem civilização. E ainda não podemos atribuir a país nenhum, nem a nenhum homem a sua condição de civilizado. Porque não se demonstra, porque não sentimos, porque ainda não temos todos os olhos claros da paz, da concórdia, da união. Do reconhecimento de que cada um tem o seu espaço. O mundo está consolidado em seus limites, em sua extensão, consolidado em suas riquezas naturais, mas falta consolidar-se no seu potencial maior, no ser.
O homem
Antigamente falava,
Com a cobra, lagartixa
E com o leão.
Olha o macaco na selva,
Não é macaco,
É o meu irmão!
Porém,
Durou pouquíssimo tempo
Essa grande curtição
Pois o homem,
Que é o rei do planeta,
Logo fez sua careta
E começou a sua civilização,
Que a gente tinha
Quando falava com os animais.
Naeno