sexta-feira, outubro 05, 2007

Retrato de uma princesa desconhecida


Retrato de uma princesa desconhecida

Para que ela tivesse um pescoço tão fino

Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule

Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos

Para que a sua espinha fosse tão direita

E ela usasse a cabeça tão erguida

Com uma tão simples claridade sobre a testa

Foram necessárias sucessivas gerações de escravos

De corpo dobrado e grossas mãos pacientes

Servindo sucessivas gerações de príncipes

Ainda um pouco toscos e grosseiros

Ávidos cruéis e fraudulentos

Foi um imenso desperdiçar de gente

Para que ela fosse aquela perfeição

Solitária exilada sem destino

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

6 comentários:

Carla disse...

princesas tristes e solitárias... andarão algumas por ai...
gostei de ler.
beijos e bom fim de semana

Jay Dee disse...

às vezes é preferível não ser princesa.

Silvia Madureira disse...

Identifiquei-me bastante com a princesa...embora eu penso que tenho destino e não tenho uma vida tão facilitada como as princesas dos contos infantis.

beijo

Nokitas disse...

no me gusta ser princesa, kiss

fotógrafa disse...

...ah!...quantas princesas não andarão por aí perdidas num mar de solidão...
Umabraço

Å®t Øf £övë disse...

Freyja,
À vezes fico com a sensação de que as verdadeiras princesas são apenas fruto da nossa imaginação.
Beijinhos.