domingo, fevereiro 25, 2007

CASARÃO

A casa não é mais dos donos daqui,
Não é mais o sobrado imponente,
Não tem mais a cor confusa,
Entre azul e verde azulada.
Tornou-se uma casa comum, entre outras.
E o que parecia de exagerado tamanho,
Ver-se hoje diminutas partes
De uma casa de pequeno tamanho.
O alpendre pende pro lado do sol da tarde,
E por pender e se expor por todo esse tempo,
A sua textura ninguém se atreve mais dizer a cor que tinha.
Destoava da outra tinta, era mais clara
E o sol marcava-lhe na altura do seu caimento.
Os donos daqui eram os donos da casa,
Que de longe se via, quem vinha na estrada,
Aberta para frente, onde pendia o alpendre.
E por onde andam os donos casa,
Coronel Fabrício, onde andará.
É fato, eu sei que ele morreu,
Mas morreu por que, se tudo ele podia,
Podia tapar o sol, se meter na casa inteira,
A ninguém saber que lá tinha gente,
Ouvia-se a voz, grossa, de tenor em êxtase,
Com a diferença sublime, do seu grito de fome,
De raiva, de preguiça, de sono, de acordar.
Mas não era ruim, o dono da casa,
Malvados eram seus filhos, arrogantes,
Estudantes da capital, sem doutorado.
Nunca passaram de passistas, beberrões,
Farristas, mulherengos, irritadiços.
Ficaram com nada. A casa a sesmaria,
São de ninguém, são de muita gente,
Que foram logrando, ficando, entijolando,
A possuírem as cercas, entrarem nos currais,
Improvisarem uma cidade, lugar que leva o nome,
Por gratidão à omissão, do Coronel,
De do céu nunca haver vindo cobrar, reclamar sua posse,
A batizaram nem cidade, nem lugar: Coronel Fabrício.
Mas o casarão azul, que hoje se ver pequeno e baixo,

Continua sem cor, sem morador, sem nada.