quarta-feira, março 21, 2007

MISSA VERDE

Do mangueiral
À sombra amiga, carinhosa e boa
Eu me deixo ficar,
Alheio ao mundo, indiferente ao mal...
E o pensamento, assim, vagueando à toa
Adeja, sim, adeja.

Sonho!
E o meu sonhar é doce, é transparente,
Tão límpido, tão puro
E tão risonho,
Que o meu viveer de mísero descrente
De ilusões pinturo.
E sob o mangueiral
- A verde e altiva catedral,
Eu rezo à natureza - a deusa antiga
Numa oração,
Numa oração que a dor mitiga,
Toda cheia de luz, de amor e de perdão.

Ai como é bom viver assim,
Longe do vil rumor, da falsa claridade,
Do bulício sem fim
Que a gente escuta lá pela metade.

Oh, alma, que prazer nos cerca e nos encanta,
Neste recanto, em flor, por onde vamos!
Como a brisa farfalha e ri.. E, ali como canta
O verde bandolim dos verdes ramos!...

Eu me deixo ficar, horas inteiras,
Longe da dor que abate e que fatiga,
À sombra amiga
Destas velhas e esplêndicas mangueiras...

E rezo à natureza,
Sem que, jamais ninguém, minha oração proíba,
Quantas verdades encerra, ó, sim... quanta firmeza
Neste grande missal que é minha vida.

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