À BOLEIA

Elas são assim. Têm paixões e arrebatamentos, sentimentos desmedidos e quentes. São duas mulheres sem preconceitos e não hesitam em empregar as palavras certas, sem vernizes e sem parcimónias melífluas, para gritarem a raiva que vai na alma e a revolta que as lavra por dentro. Atravessam continentes sempre à boleia e não levam desaforos para casa. Dão rédea larga à liberdade de pensar e dizer.

Tive a sorte de as conhecer e de lhes dar boleia de Lisboa até Coimbra e foi assim que me apercebi que a solidariedade e o companheirismo estavam ali presentes para não nos deixar desidratar das emoções, paixões e sentimentos desmedidos, intensos e quentes que perfazem o homem.

A leveza tomou posse de mim, como se andasse vestido da mais finíssima seda e o corpo tivesse a densidade de um espírito purificado. Senti-me como uma pluma inebriada pelo sol do meio-dia e insuflada pela aragem da tardinha. Só me apetecia cantar e dançar ; e deixar-me subir no ar em círculos de sublimidade e magia. E ficar no azul do céu a flutuar e pairar sobre a terra contemplando-a com um olhar de enlevo e felicidade.

No outro dia despedi-me delas, mas ainda tenho a alma cheia do encanto e fascínio inerentes ao clima que envolveu a nossa convivência.

Hoje, passados largos meses, recebi uma foto que Louise e Jane me mandaram dos Estados Unidos e, no verso, escreveram apenas isto:

Ehehehehehehehehehe.