domingo, janeiro 20, 2008

DO MESMO JEITO

Eu continuo o implacável
Besta solto numa capoeira
Relinchei alto na hora do almoço.
Declinei-me para pegar uma concha aberta
Com uma pérola, que me incomodava a visão.
Continuo contínuo, nos mesmos passos
Com a mesma fome e a mesma sede
Pronto numa rede só com os olhos de fora.
Continuo aqui, parado, distante
Garantida a minha vontade de sair
E de não me expor aos olhos pelas janelas.
Continuo achando papéis e lápis, facilmente pela casa
E, feito um louco escrevo cartas para minha mãe
Risco todos, e quando acabam os papéis
Passo-me para as paredes.
Continuo aqui, sóbrio, sem amor, sem amar
Sem esperar.
Não me incomodam os aviões que pousam
Os ônibus que chegam cheirando a distância.
Os barcos passam e eu, irreverente,
Não me presto a um gesto de sequer olhar.
Eu sei que em tudo isso não vem,
Não tem quem eu queria ver chegar.
Continuo o mesmo idiota, que viu o teu retrato
E me danei a chorar de saudade.
Como eu queria ser gente,
Para, igualmente a ti, me explicar
E ouvir a sentença de tua boca:
Eu te perdôo
Mas vais dormir no alojamento.

1 comentário:

Å®t Øf £övë disse...

Naeno,
Por vezes ficamos empedrenidos à espera de quem provavelmente nunca mais volta.
Abraço.