segunda-feira, fevereiro 01, 2010

ADIANTE


Solitário, meu modo, no meio das multidões de faroleiros, afasta-me, andando para qualquer canto que ali marcava o limite entre o que ainda ouço e o que não mais posso ver, um lugar ermo, uma parte da terra coberta de gramíneas novas, meu sonho e meu sonhar de qualquer dia. Daí a avista ela por vezes incontáveis. Ela estranha ao povaréu, fora como todos, largada à parte pelo mutirão. Estava de pé recostada a um tronco morto, e olhava-me. Era de uma beleza incomum, de olhos negros e um cabelo solto, fino, puro negrume, o que facilitava a minha visão assentar-se sobre o brilho, ponto feito pelo sol. Eu era um animal de raça, que a mirava intensas vezes, como se figurasse uma bela mais perigosa efígie da beleza, quente e alentada, mas, ao mesmo tempo, sublime e intensamente mulher. Olhava-a como se a mim ela tivesse dado algum sinal, comunicado algo de seu fulgor e de sua alegria. Já a reconhecera, já a olhava por toda a minha vida. Vi naquilo um sinal do meu destino.
Naeno. com reservas

1 comentário:

Anónimo disse...

Naeno, maravilha meu amigo!
Emoção e sensibilidade à flor da pele.

Muitos beijos

Regina Goulart